“Neste texto inédito, Simone de Beauvoir narra a crise existencial suprema. ”
(Le Figaro)
Mal-entendido em Moscou é um conto em forma de ficção que narra um momento semelhante ao vivido pela própria escritora Simone de Beauvoir e seu marido, o filósofo Jean Paul Sartre, a uma viagem feita para Rússia.
A obra se foca nas reflexões psicológicas vividas pelo casal francês, Nicole e André em companhia da filha do primeiro casamento dele a uma viagem pelas cidades da Russia, em especial, Moscou. Na viagem, que deveria ser um reencontro de André com sua filha Macha, mágoas do passado acabam sombreando a relação de pai e filha, e o casal entra numa crise existencial a qual coloca em cheque seu casamento.
Nicole e André, aos seus sessenta e poucos anos, sempre formaram um casal mente aberta, se veem diante da turma jovem de Macha de seus trinta e poucos e começam a sentir o peso da idade.
“Diziam isto constantemente: a senhora tem um ar jovem, vocês são jovens. Elogios ambíguos que anunciam futuros penosos. Manter a vitalidade, a alegria e a presença de espírito é continuar jovem. Logo, são próprios da velhice a rotina, a melancolia, a caduquice. Dizem: a velhice não existe, não é nada; ou então: é muito bonita, muito tocante; mas, quando a encontram, fantasiam-na em palavras mentirosas. Macha dizia: a senhora é jovem, mas pegou Nicole pelo braço. No fundo, era por causa dela que, desde a chegada, Nicole sentia o peso da sua idade”. (pag 58)
Na verdade, Mal-entendido em Moscou nos mostra uma reflexão sobre o envelhecimento, onde duas personagens se questionam diante este processo, como se em Moscou, esse casal tivessem percebido que envelheceram e o peso dessa descoberta os tivessem exaurindo.
“Antes, percebera alguns sinais. Nos espelhos e nas fotografias seu reflexo havia perdido o frescor: mas ela ainda se reconhecia… E então aquele rapaz desconhecido a olhou… Para Nicole ele era um macho, jovem e atraente; para ele, ela era tão assexuada quanto uma velha de oitenta anos.” (pag 72)
“Viver era para André uma eterna invenção, uma aventura… Mas agora lhe dava a impressão de vegetar: A velhice é isso, eu não a quero.” (pag 113)
Fora isso, ainda há a questão dos desencontros, das mágoas, o conto se aprofunda nas relações pessoais e como, independente da idade, isso pode levar a desentendimentos. Como muitas vezes deixamos de dizer o que pensamos e num momento de descontrole acabamos por magoar alguém desabafando nossos sentimentos. Ou seja, a importância do diálogo.
Ainda na viagem percebe-se o desencanto de Nicole e André pelo socialismo que os dois tanto conhecem e defendiam como ideal, pelo momento político em que a Rússia se encontrava, dividida em capitalismo e socialismo, liberdade e repressão. Então até seus ideais parecem não se encaixar mais em suas vidas.
Mas, sem dúvida, o livro aborda o peso do tempo, do envelhecimento e, principalmente, do nosso comportamento diate deste processo.
Apesar de narrada em terceira pessoa, percebemos a intimidade de Simone de Beauvoir com os personagens já que representam a ela e seu marido Jean Paul Sartre, assim, sentimos estar revivendo as intimidades da escritora e do filósofo. E, em especial, o amor entre os dois… Beauvoir e Sartre tinham uma relação aberta, modera e muito admirada pela cumplicidade entre os dois.
A mim como leitora, soube na primeira página que o livro me enriqueceria por seu teor reflexivo. Foi minha primeira experiência lendo Simone de Beauvoir e desde já virei fã, quero ler tudo dela.
Super indico a leitura de Mal-entendido em Moscou. Se você como eu nunca leu nada da autora, esse livro é ideal para começar. É um livro de narração direta, sem rodeios ou palavras rebuscadas. Vale muito a pena!!
Espero que tenham gostado!!
Até a próxima!!!